Talvez estejamos imobilizados de tantas análises, lives e notas. Para demonstrar, vamos listar algumas coisas das quais todos sabemos e que, provavelmente, você hoje repetiu nalguma rede social
Por Élder Ximenes Filho*, do Coletivo Transforma MP
Jorge Borges, no conto Biblioteca de Babel, intuiu a confusão em que hoje vivemos com a internet: informação infinita, complexidade crescente… sabedoria acessível e inspiradora, mas talvez inútil a partir de certo ponto. Umberto Eco, no prefácio do A Vertigem das Listas, explica como desde a antiguidade, quando nos deparamos com algo que parece infinito ou “astronomicamente grande”, buscamos descrevê-lo pela máxima enumeração de suas características. Se ver ou perceber é o pressuposto da compreensão, só passamos a compreender algo (fenômeno, pessoa ou problema) quando conseguimos adjetivar corretamente o que vemos. Todavia, após certo ponto, perseverar na enunciação daquelas características terá mais a ver com obsessão do que com a busca de conhecimento. Às vezes o que sabemos não tem utilidade prática, mas se nem conseguirmos interromper o processo de pesar nesta coisa, jamais teremos qualquer entendimento – tampouco o que pensamos terá serventia além de nos manter ocupados.
Já falamos muito sobre a distopia progressiva em que ingressamos após o golpe de 2016. Até quem discorda sobre “golpe” está obrigado a ver o óbvio abismo adiante. Mas será que não estamos naquele estágio da eterna enunciação de características dos atuais governantes? Neofascistas, criminosos, mafiosos, toscos, antipobres, racistas, conspiradores… Creio que não precisamos de ainda mais teorias e enunciados para compreender o que acontece. Talvez estejamos imobilizados de tantas análises, lives e notas. Para demonstrar, vamos listar algumas coisas das quais todos sabemos e que, provavelmente, você hoje repetiu nalguma rede social.
- Lave as mãos.
- Nazismo nunca foi de esquerda.
- O Brasil jamais teve governo socialista.
- Nenhuma vacina no mundo foi produzida em menos de dois anos.
- Distribuição de renda não é divisão dos meios de produção.
- Os preços estão descontrolados dentro e fora do Brasil: a mão invisível do mercado não regula.
- Álcool 70%.
- Só olhando o valor de um respirador, atualmente, não dá para dizer se houve corrupção na compra.
- Distância de 2 metros.
- Corrupção não dá trégua na pandemia – nem fakenews num ano eleitoral.
- Um racista calado é apenas mau; agindo, é um criminoso merecendo punição.
- A Democracia tem defeitos, mas é o que temos de melhor.
- Um povo educado em ciências naturais compreende o que é crescimento exponencial: isto salva.
- Ditadura só é boa para os opressores e olhe lá (google a história do Carlos Lacerda).
- Um povo educado em ciências humanas compreende o que é separação de poderes: isto salva.
- As crises cíclicas do capitalismo foram previstas e explicadas por Marx.
- Cubra nariz e boca com lenço ou com o braço, e não com as mãos.
- Religiões podem tirar pessoas do vício tanto quanto levá-las ao genocídio.
- Os direitos surgem quando alguém luta por eles; o contrário é ainda mais verdade.
- Evite tocar olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
- Chamar comunista de “comunista” não ofende e ainda demonstra a burrice de quem xinga.
- O vírus vive nas superfícies por dias.
- Desqualificar o interlocutor sem tratar das idéias é uma covarde fuga da discussão (além de ser estratégia retórica bem antiga).
- Mamadeira de Piroca, Kit Gay, terra plana, ET de Varginha e antivacinistas são espécies do mesmo gênero mortal de ignorância orgulhosa manipulada.
- Os primeiros 3/4 da história do Brasil foram de escravidão. Isto explica a mentalidade do brasileiro médio – especialmente o não ligar para a morte dos pobres, pretos e periféricos.
- Evite abraços, beijos e apertos de mãos. Sorrisos são livres, mesmo embaixo da máscara.
- Reclamar de Direitos Humanos sem renunciar a eles vai além da hipocrisia.
- Nossa Constituição já nasceu boa, mas não foi bem aplicada no que tem de principal. Google pelo menos os seis primeiros artigos.
- Não compartilhe objetos de uso pessoal, como talheres, toalhas, pratos e copos.
- Milícia sempre foi organização criminosa do tipo mafioso, que cobra “proteção” tanto do comerciante como do traficante. É a experiência mundial. Está na legislação.
- Países com sistema público de saúde (SUS) defendem-se melhor; os USA and ABUSA são péssimo exemplo.
- A separação entre Estado e Igrejas não é negociável após a Idade Média.
- Se puder, fique em casa o tempo inteiro.
- É impossível demonstrar que uma religião é superior a outra com base nos próprios e exclusivos textos.
- A ignorância é confortável.
- Religião não deve ter lugar nas escolas, como a ciência nunca o teve nos púlpitos.
- Faça a sua máscara de tecido ou encomende para costureiras de sua região.
- O AI-5 escancarou a ditadura militar, conforme os próprios militares disseram na reunião que por ele decidiu (está gravada, com ata assinada – google também).
- Golpes existem de várias formas e, nos últimos 100 anos, foi numericamente tão comum quanto as próprias eleições em tudo o mundo.
- Profissionais das armas não devem ter nada a ver com a política (googlemos o “Campo de Marte”, na Antiga Roma).
- Quem sabe escolher o melhor dentre 13, sabe optar pelo menos ruim dentre 2. Não há engano.
- Votos brancos e nulos tanto decidem eleições como sujam as mãos.
- O vírus ressuscitou Keynes e rematou Mises.
- Movimentos estratégicos da Globo + Moro + R. Maia + STF são jogos de xadrez a muitas mãos (consequências teoricamente previstas, mas as variáveis são muitas)
Mantenha os ambientes limpos e bem ventilados. - Intolerantes querem eliminar os diferentes. Querem matar. É preciso calá-los, processá-los, derrotá-los e nunca tolerá-los, inclusive com coerção física. Isto é, no mínimo, legítima defesa.
- Conchavos ocorrem, mas as provas só aparecem muito depois.
O “bolsonarismo” (projeto de retirada total de direitos e maximização do estado policial, para controle da população submetida) é maior do que o Bozo, faz parte de uma tendência internacional e continuará com outro nome. - Quando morrer sua mãe, seu filho ou um amigo e alguém disser “E DAÍ?” não precisa deixar por menos.
- Além das anteriores infrações à Lei 1.089/1950 (Impeachment), desde as manifestações pró-golpe, existem agora indícios mais fortes (as provas estão com o Moro e o antigo Diretor Geral da PF). Googlem os arts. 7º, 5 e 9º, itens 4, 5, e 6.
Com a obviedade das infrações, objetivamente verificáveis e positivadas na legislação mais os dois Inquéritos autorizados pelo STF e a perda de apoio no Congresso – o impedimento é perfeitamente plausível. - Os Comandantes Militares “racionalistas” por enquanto dominam os “olavistas”.
- Se estiver doente, isole-se mais.
- As elites rentistas não gostam das incertezas ciclotímicas dos bozonários.
- A Globo está explicitamente chamando o Presidente de corrupto, com a saída do Moro e pondo em sua conta os mortos do COVID – isto nem é política, é jornalismo.
- O que é certo continua certo – mesmo que você não goste. O errado, errado – mesmo que você goste.
- Quem detém o poder tende a dele abusar – daí os contrapesos da constituição; daí que Executivo, Judiciário e Legislativo podem interferir um no outro, mantendo o equilíbrio.
- É importante dormir bem e ter uma alimentação saudável.
- As portas do inferno abrir-se-ão em até duas semanas. Cadáveres pelas calçadas.
- Realizado o Impeachment, por trás faz-se o acordo de barrar processos contra os filhos milicianos em nome do silenciamento de suas redes sociais (ficam quietos, mas soltos);
Assume o Mourão e volta o Moro. Continuam as reformas anti-povo; competência e renovado alento elitista. - Confie apenas nas estatísticas e previsões oficiais, comece pela OMS e pelo Comitê Científico do Consórcio Nordeste.
- Caindo este Presidente, as esquerdas perdem os importantes argumentos que a população melhor entende: incompetência, corrupção e autoritarismo. Os dois últimos aplicam-se ao projeto todo, mas é bem mais difícil “colá-los” nas figuras de Mourão e de Moro. O Vice levará o governo mal e porcamente. Pondo a culpa no vírus, pode até arrochar mais os trabalhadores.
- Vale passar álcool no celular e nos brinquedos. Tirando a bateria e secando bem, dá para usar água e sabão.
- Na próxima eleição virá a chapa Mourão + Moro (se a economia melhorar no último ano) ou Dória + Moro. Neste último caso, o PSDB será entronizado, como era a ideia desde a derrubada de Dilma.
- Um golpe militar clássico fica mais distante, pois, além de a maioria dos Governadores não apoiar, a rigor “nem precisa”.
- Máscaras servem e farão parte de nossas vidas daqui para frente.
- O Presidente tem responsabilidade pelo aumento das mortes. Os números demonstram que a partir de suas palavras e maus exemplos diminuiu a adesão população (pecou por ação). Continua atrasando os pagamentos do auxílio emergencial e não se coordenou com os Governadores desde o início (pecou por omissão).
- Não toque o rosto.
- Luta de classes não é coisa de marxista. Platão já tratava disto. O seu lado importa.
- Moro não pariu, mas embalou o bolsonarismo até colocá-lo no poder e foi o pilar moral do governo durante um ano e meio. Como demonstrou Glen Greenwald e como disse sua sósia e esposa de Moro, devemos vê-lo e Bozo como “uma coisa só”.
- Não há cura e talvez jamais haja.
- A tese bozonariana de que “tanto faz” o isolamento é cínica pois aposta na ignorância da população e torce pelo caos, mas pode adaptar-se ao eventual sucesso do trabalho dos governadores.
- Coquetéis de remédios aliviam os sintomas e ajudam na recuperação. Isto não é cura.
- Ninguém prepara dossiê com gravações e documentos em 5 dias. Moro planejou a traição desde o início. A crise apenas apressou.
- Você deve fazer exercícios em casa, mas nem sempre sua live é a última maravilha…
Viram só! Todos sabemos disto tudo. TODOS CONHECEMOS OS PROBLEMAS RAZOAVELMENTE BEM. Muita gente boa explicou e continua explicando. Proponho pensarmos em questões práticas e planejarmos a ação – após todo o sofrido aprendizado.
Como qualquer animal ferido que ataca, os bozonários tentarão autogolpe “a la Bolívia”.
O plano é este: pelas redes sociais o Presidente chamará “o povo de deus” para ocupar as sedes dos governos estaduais, o STF e o Congresso. É a senha para os radicais religiosos e as PMs infiltradas de milicianos atacarem. Tentarão derrubar o sinal da Rede Globo também. As Forças Armadas, em vez de protegerem as instituições, ficarão nos quartéis e o autogolpe se consuma, com o lançamento do “AI-6” (fechamento formal do legislativo e do judiciário, com legislação direta pelo Executivo e nomeação de Governadores e Prefeitos biônicos). Vão ter que furar o isolamento social.
O antídoto é este: sindicatos, partidos de oposição, igrejas de tradição democrática, militares e policiais legalistas (estes sob vigilância dos governadores) também sairem às ruas e barrarem os golpistas – inclusive com barricadas e porrada. É preciso começar a planejar isto, usando também as redes sociais. Vão ter que furar o isolamento social.
Concomitantemente, as esquerdas precisam (antes de decidirem nomes para a eleição), divulgar um programa que unifique uma oposição a favor dos trabalhadores, com slogans facilmente compreensíveis.
Exemplos: “Os Bilionários que Paguem” (taxação das grandes fortunas e dos lucros/dividendos); “Estado É para quem Precisa” (proteção das políticas públicas); “Saúde para Todos” (proteger o SUS); “Dignidade Não é Esmola” (renda mínima permanente); “Emprego e Indústria pela Vida” (redirecionamento da produção para insumos e equipamentos) e “Educação pela Vida” (prestigiar a razão e a ciência em todo o sistema educacional). Não custa lembrar do heróico “Pão, Paz e Terra” que conquistou camponeses e soldados.
Finalmente, encerro esta lista agoniada, com duas últimas recomendações:
- Saia apenas para o essencial: comprar comida, ir ao hospital ou combater golpistas.
*Élder Ximenes Filho é Mestre em Direito Constitucional, Promotor de Justiça e membro do TRANSFORMA MP