Lula: a honra e o orgulho do povo brasileiro?

Por Maria Betânia  Silva

Foto: Ricardo Stuckert

A posse de Lula para exercer o seu terceiro mandato como Presidente do Brasil se impõe  como o fato histórico mais relevante do mundo, dessas duas primeiras décadas do século XXI.

O que se viu e se vivenciou em Brasília ontem, dia 1° de Janeiro de 2023, não  tem precedentes em nenhum outro país. Não  foi apenas a festa da posse, explosão de alegria. É  o que ela representa diante do cenário  mundial de avanço de um espectro político de extrema- direita, destrutiva da convivência  humana em todos os seus aspectos. 

Em linguagem popular, pode- se afirmar que  a volta de Lula ao poder é a mostra de alguém que  ‘dá  nó em pingo d’água’ e o faz no melhor sentido, que fique bem claro! É um nó como se fosse um laço de presente, para trazer o futuro. Ele, no passado, já nos tinha ofertado o melhor futuro e é, ainda, doloroso pensar que retrocedemos ao nosso passado mais sombrio com os governos que se seguiram após  o golpe de 2016.

Sob a perspectiva dos historiadores, de filósofos e sociólogos,  a vitória eleitoral  de Lula, em 30 de outubro de 2022, afastando do poder um chefe de governo fascista constitui um fato inédito. 

Até então, de acordo  com as teorias políticas  que emergiram das experiências históricas  concretas ocorridas na Europa, se acreditava que somente através da guerra, como se deu durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e não  pela via eleitoral, seria possível vencer o fascismo.

O Brasil flertou com o fascismo e estava em vias de selar um pacto com ele, o qual  foi interrompido graças  à  existência de Lula:  um ser humano  transbordante de virtudes e um líder  político  inspirador, inteligente, sensível, resolutivo e hábil.   

Simbolicamente, a  caminhada de Lula até aqui, criando o arco de alianças, funcionou como uma estratégia de guerra. Nada foi fácil e nem será. Ele, porém,  conseguiu poupar o Brasil do mergulho num embate mortal de proporções  inimagináveis  para um país   com 215 milhões  de habitantes, de grande extensão  territorial e abrigo da maior floresta tropical do mundo  da qual depende a sobrevivência  da humanidade. 

Ele é  um guerreiro que nutre bons afetos, sabe fazer política usando da palavra, algo que é  próprio do ser humano evoluído  na sua e existência, e é de importância  fundamental para o Brasil e para o mundo; para o povo brasileiro e para a humanidade.

Com o perfil humanizado e humanizante que tem, Lula dispensa as armas automáticas de tiros em série. Ele sabe bem que as armas e os seus projéteis  não  são instrumentos da política de vida civil,  são  projéteis pérfuro contundentes, destrutivos dos corpos que aniquilam  projetos de vida. 

Lula não enxerga  inimigos, mas adversários com pontos de vista diferentes do seu e, nesse sentido, age e provou que “as flores vencem o canhão”. Ele quebrou parte dos espinhos fascistas e demonstra disposição para continuar na luta até  que eles murchem. 

Logicamente nem todos desapareceram, muitos se retraíram e, ainda, podem voltar a eclodir. Portanto, cuidemos do nosso jardim. Estejamos atentos ao florescimento das nossas políticas públicas, da nossa primavera cujas flores Lula polenizou no país ao longo dos seus  dois mandatos anteriores, como nunca se tinha feito na História  do Brasil, como nunca se tinha visto.  Foram muitas políticas de inclusão  das parcelas vulnerabilizadas do povo e o povo brasileiro demonstrou que não esqueceu.  

Os  governos de Lula e Dilma foram governos honrados e empenhados em seguir os princípios fundadores do Partido dos Trabalhadores, fundado há  40 anos pelo próprio  Lula, quando era líder sindical. O povo brasileiro, por seu turno, ao votar em Lula em 2022 também  deixou claro para o mundo que tem uma honra inabalável e soberana, atento às necessidades reais de vida da classe trabalhadora e preocupado em como compatibilizar isso com outras questões de grande envergadura para a estabilidade social e econômica do país, dentre elas, a preservação  ambiental e proteção  dos povos originários. A democracia que, desde 1988, no Brasil, era tratada como projeto, floresceu, brotando do   chão, como um sonho impossível, tornado possível. 

O cenário político  de compromisso com a democracia, hoje, porém  é  bem distinto daquele de 1988. 

Há, como já  salientado, um arco de alianças e isso torna o cotidiano da prática  democrática muito mais complexo, porém, não  se pode esquecer que  esse arco somente foi possível porque: a) Lula respeitoso das instituições do país, nelas acreditou e recuperou os seus direitos políticos, que lhe foram absurdamente subtraídos pela leviana operação Lava Jato,  e b) o Partido dos Trabalhadores, criminalizado pela lógica rasteira de alguns integrantes das mesmas instituições  nas quais Lula acreditou,  resistiu à  tempestade revelando- se como o mais consistente partido político criado no Brasil e, por conseguinte, um guardião  da democracia representativa, a despeito dos problemas internos que vez ou outra lhe atravessam.

Esses dois fatores   aqui ressaltados – embora não  sejam os únicos a serem considerados – são  relevantes para extrair a lição  de que não se pode brincar com a institucionalidade no país.  

As instituições, e os partidos políticos  são  uma instituição, junto com o povo funcionam como pólos de atração de vida democrática, através  de um processo contínuo de interação.

Não é  possível  falar em democracia sem povo atuante e envolvido com as práticas da vida política e sem instituições  capazes de acolher as demandas de organização e de proteção  de direitos desse povo. Trata- se de uma equação com muitas variáveis, de valores diversos e que precisam manter equilíbrio  em seus termos. Quebrar essa equação, oprimindo o povo, dizimando- o e desvirtuando as instituições  do papel que lhes cabe cumprir implica destruir a atividade política do país e, por conseguinte, as possibilidades de convivência social. 

Lula com resiliência, paciência e sabedoria, se coloca à  frente do tempo para restabelecer a normalidade no Brasil, reconstruindo-o a partir dos escombros deixados pelo seu antecessor: um homem Inominável pelo tanto de defeitos que carrega e pelo tanto de maldades que foi e é  capaz de fazer.

Está  mais do que claro pra todo mundo que Lula é  orgulho e honra do povo brasileiro e que, portanto, o sucesso do governo  que ele  ora inicia depende mais de nós  do que dele. Se quisermos manter o orgulho e a nossa honra como povo  devemos nos esforcar para ter Lula como a nossa grande inspiração  e isso significa sermos: pacientes,  perseverantes,  combativos e resilientes.

Estejamos atentos a fazer do nosso discurso e a nossa prática, afinal a fala é ação, para o bem e para o mal. Isso já  ficou demonstrado. Mas ainda cabe enfatizar que o governo derrotado nas urnas foi aquele que maior mal fez ao país tornando a fala odiosa e violenta a sua ação e realizando  concretamente várias ações que cumpriram a promessa destrutiva anunciada. 

Agora, com Lula, estamos em um patamar  de decência existencial. 

No discurso que ele proferiu na cerimônia  de posse, quando subiu no parlatório, após  receber a faixa  presidencial das mãos  de representantes da diversidade  do povo brasileiro, num gesto magnânime e cheio de significados, disse: “a esperança venceu o medo e o amor derrotou o ódio”. 

Ninguém em sã  consciência rejeita essa mensagem, mas se o fizer: ou não  tem qualquer consciência da vida ou é insano mesmo.

Maria Betânia  Silva – Procuradora de Justiça  Aposentada e Membra do Coletivo Transforma.

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