Por Erika Puppim
*Apenas mais um caso de violência doméstica: Joana não quis botar o jantar na mesa*
Joana, uma mulher trabalhadora, negra e pobre, gosta de sentar no bar no fim-de-semana e tomar umas. Mauro, seu companheiro, também gosta de um goró, mas não gosta que ela beba, afinal, não gosta de ver a (sua) mulher “bebendo no meio de um monte de macho”.
Num sábado desses, Joana bebeu à tarde, a noite só queria bater na cama e dormir. Mas Mauro exigiu que esta levantasse e fizesse uma janta pra ele. Ela se negou, disse que estava tonta e com dor de cabeça, então Mauro enfurecido, esmurrou a cara dela na parede.
Na audiência, Joana diz que tá tudo bem agora, que já se entenderam, que ele não faz mais isso, porque ele só fica assim quando ela faz alguma coisa que ele não gosta, tipo sair pra beber. E eu pergunto: E a sra. gosta? Ela me olha atônita com a pergunta inesperada, depois sorri tímida e abaixa a cabeça. Ele continua sério. A Juíza diz ao agressor que se ele tem mão, pode muito bem fazer sua própria comida. Ele continua sério. Acaba a audiência eles vão embora. Juntos.
E então vem a mulher do Ministro da Justiça e faz um post dizendo que faz jantar e põe a mesa pra o maridinho sim e acrescenta: “Sorry, feministas!”.
Rosângela se equivoca quando pensa que o feminismo se importa com o que uma mulher branca, rica e privilegiada faz dentro do seu lar.
O feminismo é um movimento político-social que luta pela igualdade e a liberdade para as mulheres, para no dia em que Joana quiser beber ou não quiser botar a mesa, não precise levar outro murro na cara.
Rosângela poderia descer de seu pedestal e ver como existem mulheres oprimidas por sua condição de gênero, raça e classe, que não estão dando a mínima pro seu jantarzinho porque estão apenas lutando para sobreviver.
*Nomes fictícios