Por Raphael Bevilaqua, no facebook.
Ainda na esteira dos eventos que se seguiram ao brutal assassinato de Marielle e Anderson, fiz um exercício de reflexão sobre o tom de provocação e revanchismo de alguns comentários publicados especialmente em redes sociais.
Notabiliza-se, atualmente, o fato de que muitos defensores de direitos ou simplesmente pessoas que buscam combater excessos, ilegalidades e violência do poder estatal em várias esferas são hostilizados por uma gama variada de pessoas que, ao que parece, não entendem muito bem o que está acontecendo.
É compreensível que alguns policiais da linha de frente, submetidos à pressão, o risco mortal de uma guerra perdida imposta por uma política fracassada e/ou mesmo ao estresse pós-traumático, sintam-se ameaçados pela tentativa de conter esses abusos. O motivo é simples: o medo do erro é constante, ser acusado em seu erro – com o mesmo rigor que se acusa os ditos “bandidos” – é, para eles, desesperador. Acabam confundindo, por razões não desprezíveis, a busca por direitos com perseguição.
Obviamente, essa não é a posição de todos os policiais, ouso dizer que nem mesmo da maioria. A maioria é de pessoas comuns que, como nós, querem viver a vida em paz, não morrer e nem matar e ganhar seu salário de forma digna. Para eles, aqueles que cometem sistematicamente violência policial, excessos, ilegalidades, assassinam – não em legítima defesa ou outra situação extrema – são igualmente nocivos, não só para sua imagem como policiais, mas também porque aumentam a tal “perseguição” e porque os excessos lhes atingem, já que muitos são oriundos das regiões mais miseráveis e violentas.
Igualmente, a maioria dos policiais não se expõe em redes sociais destilando ódio, a maioria está ocupada demais tentando se manter viva.
E quem está por trás dos tais discursos? O grosso que se observa é de uma classe média tacanha e assustada. A maioria sequer correu risco de vida em algum momento da sua débil existência e não se sente ameaçada pelo excesso e pela ilegalidade, que não afetam os condomínios e prédios onde vivem. Confundem a defesa dos direitos de quem não tem condições de lutar por eles – inclusive o direito de policiais e suas famílias/comunidades – com defesa do direito de “bandido”.
Bandido, pra ele, é um sujeito que comete crimes que o afetam, não a sua sonegaçãozinha de março no imposto de renda, nem a direção embriagada ou o documento falso para entrar em boate. Acham que qualquer coisa se justifica em nome do combate aos crimes de outros grupos sociais, menos sofisticados e mais barulhentos, mesmo o homicídio, a tortura e, por que não, a corrupção.
Um policial sente profunda consternação quando é obrigado a puxar o gatilho – por erro ou provocação – e mata um inocente. Ele sofre as consequências, sua família sofre as consequências. Não é igual a um lambe-saco de internet que repete frases prontas “se tinha problemas com a polícia, é porque mereceu”. Não, não é assim que funciona e nenhum policial consegue, em sã consciência, pensar dessa forma.
Esse texto é para você que não entende nada dessa realidade complexa, bosteja insanidades pelo teclado e repete o nome de um famoso pré-candidato que tem capacidade intelectual e vivência parecidas com a sua (nenhuma) ao final dos comentários como se fora argumento. Para você também, psicopata/sociopata, que se esconde atrás da suposta defesa de agentes públicos para vomitar toda a sua frustração.
Vocês não estão defendendo um lado de uma suposta guerra entre bandidos e mocinhos, ela não existe, vocês estão apenas dando vazão aos seus instintos mais mesquinhos, ególatras e psicóticos, falando em nome de quem nunca pediu sua representação e jogando com vidas humanas – inclusive a de quem dizem defender – para arrefecer/satisfazer os medos/prazeres mais obscuros de suas almas.
Foto: Ponte Jornalismo