Por Gustavo Roberto Costa.
Nós queremos desarmar (inclusive os órgãos do Estado); eles querem mais armas e, consequentemente, mais mortes
Somos contra a prisão, a favor da liberdade; eles querem mais prisão (mais sofrimento)
Somos a favor do amor (seja homo, seja hétero, seja bi, seja tri); eles acham que podem restringi-lo (esquecem-se que a força do amor é inabalável)
Somos a favor das mulheres; eles acham que podem julgá-las por suas escolhas
Somos a favor do povo negro, cremos que só a proporcional representatividade nas instâncias de poder poderá superar nossas mazelas históricas; eles negam o racismo
Somos a favor do estudo, da ciência, do conhecimento; eles não se importam com isso (as frases prontas são mais fáceis)
Somos fãs da poesia, da música, da arte, da sensibilidade; eles odeiam tudo isso
Somos fãs de Bethânia, de Elis, de Sosa, de Jara, de Chico, de Caetano, de Criolo; eles eu não sei
Somos a favor da solidariedade, da fraternidade, da distribuição de riquezas; eles são egoístas, individualistas, acumuladores
Somos a favor do professor, reverenciamos os mestres; eles os atacam, os discriminam, os perseguem
Somos a favor da lei, da democracia, dos direitos humanos; eles acham que o ordenamento jurídico é um entrave para seus delírios autoritários
Somos contra a maléfica e ineficiente “guerra às drogas” (uma verdadeira guerra contra os pobres); eles não se importam se milhares de inocentes morrem e são presos injustamente
O nosso mito prega a paz, a união dos povos, a soberania; o deles prega a morte, a tortura, o ódio
Gostamos da conversa, do debate, da troca de ideias; eles manifestam-se por meio do grito e da histeria
Amamos nosso país; eles não veem a hora de poder deixá-lo
Amamos nosso povo, não nos conformamos em ver crianças e adultos jogados nas sarjetas; eles os olham com ar de superioridade
Sofremos com o sofrimento alheio, compadecemo-nos com a perda de entes queridos de qualquer um; alguns deles têm a capacidade de tripudiar disso
Amamos Cuba, onde as pessoas são tratadas com dignidade, onde impera a igualdade e onde há serviços públicos básicos, gratuitos e integrais; eles conseguem odiar esse exemplo de sociedade
Apoiamos o povo da Venezuela, defendemos seu direito de ditar seus rumos, estamos ao lado de nossos irmãos sul-americanos; eles preferem o irmão do norte, apesar de toda guerra e matança que espalha pelo mundo
Amamos as crianças, cremos em sua capacidade de escolha e em seu poder criativo; eles querem crianças robotizadas, que falam idiomas estrangeiros mas não conseguem questionar a sociedade injusta em que vivem
Queremos receber os imigrantes vindos de todos os cantos da terra; eles têm medo de perder seus empregos
Acreditamos que o ser humano está sujeito a erros, mas que pode reconhecê-los e arrepender-se (um tal de Cristo foi quem disse); eles não acreditam, pregam a exclusão eterna
Acreditamos na emancipação social; eles em salvadores da pátria
Somos pelos idosos; eles não se importam em defender o ataque às aposentadorias
Amamos os sem-terra, sua luta por cidadania e contra injustiças históricas; eles os odeiam sem saber por que
Somos pelos trabalhadores; eles são pelos explorados
Somos pelo perdão; eles são pela vingança
Somos pela paz (embora também saibamos brigar); eles são pela guerra
Gustavo Roberto Costa – Promotor de Justiça em São Paulo. Membro fundador do Coletivo por um Ministério Público Transformador (Transforma MP) e da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD). Associado do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais – IBCCRIM.
Foto: poema “No caminho com Maiakovski”, de autoria do brasileiro Eduardo Alves da Costa