Por Régis Richael Primo da Silva* no GGN
Jeff Bezos é um dos 2.755 bilionários que existem no mundo, em um planeta habitado por 7,6 bilhões de seres humanos. No início de 2020, quando o número de bilionários era um pouco menor (2.153), esses imperadores dos tempos modernos já possuíam riqueza superior à riqueza somada de 4,6 bilhões de pessoas. Enquanto isso, os 60% mais pobres do mundo continuam vivendo com até US$ 7,40 por dia.
A fortuna de Bezos é estimada em 211 bilhões de dólares. Mas apesar disso, é fato conhecido que ele não pagou nada de imposto de renda nos anos de 2007 a 2011 (uma pesquisa rápida no Google mostra isso), e sua empresa, a Amazon, também nada pagou de imposto de renda em 2018, apesar de ter lucrado 11 bilhões de dólares naquele ano.
Também não é segredo que a Amazon emprega centenas de milhares de trabalhadores precarizados, submetidos a baixos salários e péssimas condições de trabalho. Reportagem de um jornal inglês relatou que os empregados da Amazon sofrem penalizações pelo “desperdício de tempo” para ir ao banheiro. A reportagem mostrou que, em um depósito enorme, que abrigava 1.200 trabalhadores, havia apenas 2 banheiros. A matéria estampava uma foto da degradação humana capitalista: trabalhadores urinando em garrafas para não sofrer sanções. Não é à toa que a Confederação Internacional dos Sindicatos considerou Bezos o pior empregador do mundo. Ao invés de posar de filantropo, como costuma fazer, Bezos deveria tratar melhor seus “colaboradores”, dos quais extrai até a última gota de suor.
Jeff Bezos não tem nenhum talento extraordinário. Não é um grande cientista, professor, médico, engenheiro, escritor, músico, esportista ou estadista. É apenas um dos poderosos que ajuda a manter e aperfeiçoar as regras de um sistema irracional que serve para beneficiar alguns poucos, enquanto condena a maioria à exploração. Com a posição dominante da Amazon no mercado, prejudica a economia, ao destruir empresas e empregos.
A organização econômico-social capitalista é irracional porque, apesar de ser capaz de produzir uma enorme quantidade de riqueza a partir do trabalho de bilhões de trabalhadores, a maior parte dessa riqueza vai parar nos bolsos de poucos. Mas não pensem que essa extrema concentração de renda é uma deformação do capitalismo que pode ser corrigida. Ela é, na verdade, de sua essência, como advertia o velho Marx.
O capitalismo, contudo, não é eterno. Foi inventado pelo homem há poucas centenas de anos e pode ser substituído por algo melhor. Se foi útil para desenvolver as forças produtivas, já não o é mais. Nunca na história se produziu tanta riqueza quanto agora. Nunca na história tantos trabalhadores ajudaram a produzir essa riqueza (há, hoje, mais de 3,5 bilhões de trabalhadores no mundo). No entanto, nunca na história houve tanta concentração de renda quanto agora.
Definitivamente, o capitalismo não é uma
forma aceitável de organização social, pois deixa a maioria da população entregue à sua própria sorte, numa competição entre vencedores e vencidos, enquanto beneficia apenas aqueles que já estão no topo. Isso não é sustentável ao longo prazo, e, cedo ou tarde, esse sistema ruirá e será substituído por um outro sistema, cooperativo, humano e que atenda às expectativas de auto realização de todos e não apenas de alguns poucos. Com toda a ciência e a tecnologia de que dispomos hoje, esse outro sistema não só é desejável: é também possível.
*Régis Richael Primo da Silva é Procurador da República e ex-Defensor Público do Estado do Ceará. Como membro do Ministério Público Federal, exerceu as funções de Procurador Regional dos Direitos do Cidadão no Pará e no Maranhão, e de Procurador Regional Eleitoral no Maranhão. Atualmente é titular do 15º Ofício da Procuradoria da República no Ceará, com atribuição para matéria criminal.