Aos transformadores, com carinho…
Leia a íntegra:
Estamos imensamente gratos por tudo que pudemos experimentar no último sábado (11/03/2017) ali no Hotel Merlin em Copacabana. O ambiente estava acolhedor, tanto pelo aspecto estrutural, quanto pela recepção e adequação em si.
Ao Coletivo Transforma MP queremos externar a nossa mais sincera admiração e a imensa gratidão por tudo que vivemos ali. Transformar o MP é também contribuir, e muito, para a transformação de terceiros, nesse caso, a galera do Eu sou Eu.
A questão aqui é direta e grosseira: nossa admiração é para com integrantes de uma classe que opina pela conversão das prisões em flagrantes em prisões preventivas na Audiência de Custódia. Que no Tribunal do Júri nos humilham de maneira constrangedora, que na Execução Penal não titubeiam pelo indeferimento do pedido de progressão de saídas temporárias. Oferecem denúncias de acordo com o inquérito do delegado que por sua vez é bem alinhado aos PMs da operação. Que pena que a insatisfação não é só nossa, mas também de muitos de vocês. E com esses PRECONCEITOS, chegamos, e no curso do dia fomos transformados e ensinados sobre muitas coisas.
Nossa manhã se inicia com a recepção de diversos ilustres representantes do Parquet. Fomos muito bem recepcionados e recebidos. É humanizante quando somos vistos como pessoas e não como seres exóticos. Nos apresentamos…
Afrânio Silva Jardim estava ali, iniciou sua exposição, o Princípio da Obrigatoriedade trouxe algumas percepções do que está rolando no cenário. A denúncia da privatização do Processo Penal foi muito bem colocada, até sua cautela em relação em tratar sobre a segregação de eventuais pessoas que comentem crimes e mais crimes foi por nós compreendido, aqui vale um registro de gratidão à uma Procuradora do Paraná, que possui um cabelo escuro e curto. Ao nosso lado, se colocou e humildemente traduziu alguns conceitos que para nós estavam soltos. Isso muito ajudou na compreensão da fala do Afrânio. Sua “crítica” a Justiça Restaurativa, seu cuidado com o MP também nos tocou. Aprendemos… Sua capacidade de descontrair ao chamar Geraldo Prado de plagiador, de apontar para inexistência de Deus, de divergir de Juarez no que tange a revolução e de colocar a mão no bolso com medo no aeroporto foi bastante harmonioso. E tudo isso sem senhorios! Sorrimos.
Em seguida tivemos a oportunidade de ouvir o pessoal da AJD, ouvimos André Bezerra falar sobre as limitações da Associação “se a secretária vai ao banco, ela não atende o telefone, só tem ela.” ; a humildade no discurso nos marcou, sabe aquele papo de “juízes semi deuses”, então não fazia nexo ao ouvir o pessoal da AJD. Rubens Casara colocou de maneira super compreensiva para nós, o resgate do MP da Constituição. André, falou das práticas Restaurativa, da união para resistir ao fascismo. Marcos Peixoto acompanhava, optou pela dispensa da apresentação do Afrânio, que no inicio estava a sua esquerda. Humildes, de postura agregadora aprendemos muito com a galera da AJD. Fomos esclarecidos quanto aos nossos equívocos pessoais e do grupo em si.
Ouvimos Juarez Tavares, que de início fazendo uma comparação salarial destacava a potência que se tornou o MP e do quando hoje estavam desalinhados dos seus propósitos iniciais lá pelos idos da década de 80. Avançou no discurso, apensar de uma inibição declarada inicialmente e que por nós não foi notada.
Chegamos no momento do almoço, que dignidade. Na parada, um juiz do Rio Grande do Sul se aproxima, conversa e troca contatos. O pessoal do Movimentos de Atingidos por Barragens e da Pastoral da Terra se aproximou. Falamos de Rafael Braga, dos desaifos. Conversamos…
No período da tarde nos apresentamos, corremos contra o tempo, chegamos na frente e deixamos tempo para trás, haha, que foi bem utilizado pelos demais. “I have dream” e o sonho de ver uma Promotoria de Execução Penal cumprindo o que alega fazer. Nós falamos, expomos a limitação da Execução Penal. Ouvir Mônica e na “parede da memória” ter o “Guri” de Chico Buarque martelando nos ouvidos, simplesmente é de chorar. O menina que falou sobre o Porto do Açu, das implicações, das covardiass e do cuidado com os arredores e pessoas. A Pastoral de Terra, seu poema inicial, suas agendas esperançosas, os depoimentos… Tinha ainda a professora de Juiz de Fora, a advogada que não perdeu tempo em expor as mazelas do MP , com contexto para reafirmar: Transforma MP .
Ouvimos atentamente Luiz Eduardo Soares, retomar o tema da anistia, que é algo bem interessante ao Eu sou Eu. Luiz Eduardo olhava no rosto do Eudes, o chamou pelo nome e também reforçou o coro que outros tantos “Eudes” podem existir e existe. Orlando Zaccone falou sobre o diálogo, saudou os movimentos sociais, evidenciou um dos integrantes do Eu sou Eu, falou sobre a capacidade da política, e reforçou a questão do diálogo. Sim, diálogos. Diálogos entre Promotores e Promotoras, Procuradores e Procuradoras, Juízes, Defensores, Advogados, e nós, egressos. Sim, egressos do sistema penal. Um dos integrantes encontra-se em Prisão Albergue Domiciliar, ou seja, ainda esta preso. Mas estava ali, ali com todos esses acima, que para além das funções que exercem eram pessoas, cidadãos, seres humanos sensíveis e corajosos.
O responsável pelo programa Faixa Livre, da rádio Bandeirantes estava lá, se colocou a disposição do coletivo e dos movimentos. A Defensora também falou, trouxe sua contribuição e nos fez sorrir enquanto justificava seu “atraso ” por conta das consultas de preços no mercado. O machismo foi denunciado então. Aprendemos.
Poderíamos dizer que chegamos ao fim, mas tinha as colocações dos Promotores sobre as falas dos Movimentos Sociais. A contextualização foi necessária.
Bem, para além de todas essas questões, algo fica: O abraço coletivo e o lançamento dos balões!
Não tem jeito, isso tocou no íntimo, comoveu, a emoção tripudiou da razão. Escrevemos RESILIÊNCIA no balão, acreditamos que o Coletivo precisará ser resiliente em certos momentos. Lançamos ao ar, o balão da Resistência. Que glória! Lançamos juntos o Coletivo, as cores, as forças das frágeis bolas que voaram, transpuseram os altos montes, se foram para longe. Entre os urubus, os balões coloridos seguiram. Era a diferença, o ponto de esperança, era o vigor, simplesmente era a TRANSFORMAÇÃO, ou apenas, o início dela.
Terminamos com um abraço. Abraçados, unidos, ligados, fortalecidos e comprometidos em nos apoiarmos. O Eu sou Eu ter o apoio do Coletivo Transforma MP é fantástico. Muito obrigado, conte conosco!
A dignidade do abraço, do olhar no olho, no ouvir, no parar para escutar, no cumprimento, na explicação, no cuidado, no convite pra lançar balão, no sorrir, no perguntar, no discordar… Obrigado, nosso muito obrigado.
Não somos o MP mas também estamos sendo transformados com as ações de vocês. Aos Transformadores do MP com carinho e coragem. Obrigado pela sensibilidade em nos convidar para nos ouvir e entender que: o MP é transformado a partir do momento que ouve aqueles que estão em maior grau de vulnerabilidade, e que é fortalecido na política mas também no diálogo, no encontro e no abraço.
Contem conosco, parabéns pela iniciativa, segue no escrito nossa admiração e nosso irrestrito apoio.
Eu sou Eu: Reflexo de uma vida na prisão.
Coletivo por um Ministério Público Transformador
Fonte:DESAFIOS CRIMINAIS