Por Gustavo Roberto Costa no GGN
Não farei análise da chamada “guerra na Ucrânia”.
Uma legião de pessoas bem preparadas (e outras nem tanto) já o fizeram. Cada um que tire suas conclusões.
O que inquieta é militância do “pacifismo a qualquer custo”.
Putin seria, para alguns (notadamente para a mídia hegemônica), um ditador, sanguinário, assassino, mostro, homofóbico e outras coisas mais, ao intervir militarmente na Ucrânia.
Reconhecem o papel nefasto dos EUA e da OTAN, mas não deixam de “condenar” a ação russa. Dizem que defendem a “paz mundial”.
Nenhuma guerra, para eles, pode ser justificada.
Quem compreende a operação russa como algo necessário é iludido, opiniático, ingênuo, está de má-fé e é desinformado.
Colocam-se “em cima do muro” (a nova especialidade de parte da esquerda nacional). Nem EUA, nem OTAN, nem Rússia.
Ocorre que os mais de trezentos e sessenta civis mortos no conflito (algo trágico), ao menos até o momento, sequer se aproximam dos mais de quatorze mil mortos da região do Donbass (grande parte da etnia russa) por tropas e milícias ucranianas desde o golpe de 2014.
Ademais, o apoio, o financiamento e o armamento (pelo ocidente) de tropas declaradamente nazistas na Ucrânia põem o povo russo (que já enfrentou os nazistas uma vez, ao preço de 20 milhões de vidas) em alerta máximo. Eles sabem o que é ter nazistas a suas portas, e não brincarão com esse fato.
Sabem também que a única forma de lidar com nazistas é com armas na mão – os seguidores de Hitler não são adeptos do diálogo para a resolução de controvérsias.
Com o detalhe de que os nazistas atuais nem ligam para o antissemitismo. Seu discurso é recheado de russofobia.
Não bastasse, há indícios da possível existência de laboratórios que produzem armas biológicas e doenças fatais na Ucrânia, os quais seriam mantidos no local em parceria com os EUA (a confirmar).
Grupos neonazistas somados a armas químicas e biológicas. O resultado não pode ser bom para a segurança do povo russo.
Isso sem contar a quantidade de informações que devem ter os serviços de inteligência, das quais possivelmente nunca saberemos.
Portanto, sentar no sofá, debaixo do ar condicionado, apanhar o seu celular e fazer postagens nas redes sociais, para “condenar veementemente” a operação militar russa, ser a favor “da paz” irrestrita, chamar Putin de tirano, ditador etc., é muito fácil.
Difícil deve ser ter a responsabilidade pela segurança de centenas de milhões de pessoas, e ver crescer a escalada de ameaças contra o seu povo diariamente.
Será que o discurso pacifista seduz a população palestina em Gaza, exterminada há mais de 70 anos pelas forças sionistas do Estado de Israel? Será que hastear a bandeira branca impedirá o genocídio dos palestinos?
Será que a população iemenita tem outra forma de se defender dos ataques mortíferos da Arábia Saudita que não seja por meio da violência?
Será que bradar pela “paz incondicional” será algo bem recebido pelos moradores das favelas cariocas, mortos aos milhares pelo Estado brasileiro?
Claro que não situações diferentes, mas são exemplos eloquentes de que a violência pode ser um recurso necessário – embora indesejado.
Não tenho condições de avaliar se a operação militar russa foi ou não necessária. Nem se foi ou não proporcional.
Mas a análise concreta da situação concreta (não baseada em fantasias, ilusões e subjetivismo) exige que se reconheça que a ação militar para autodefesa é algo que pode ser levado a cabo para a garantia da segurança de um país e de um povo.
O julgamento moral dos acontecimentos é o mais pobre possível.
A favor da paz sim, mas sem o armamento pesado nas mãos de grupos neonazistas, sem mísseis apontados para nenhum país, sem a produção de armas biológicas e sem o ataque a minorias étnicas.
Senão a paz será apenas o direito de “morrer em paz”.
A diplomacia tem limites.
E, no caso da guerra da Ucrânia, há sérios indícios de que as “notas de repúdio” já não vinham funcionando para garantir a paz.
Gustavo Roberto Costa é Promotor de Justiça em São Paulo. Mestre em direito internacional pela Universidade Católica de Santos. Membro fundador do Coletivo por um Ministério Público Transformador – Transforma MP e da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia – ABJD