OAB-RJ sobre morte de Ágatha: ‘sintoma de uma sociedade doente’

As vítimas dessa política de segurança pública, sem inteligência e baseada no confronto, são pessoas negras, pobres e desassistidas’

A Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OAB-RJ) divulgou nota em que lamenta profundamente a morte da menina Ágatha Vitória, de oito anos, atingida por um tiro de fuzil, que teria sido disparado pela PM, na noite da última sexta-feira, 20, no Complexo do Alemão.

Em nota, a Polícia Militar argumentou que núcleos da UPP estavam sendo atacados ao mesmo tempo em vários pontos da região e decidiram revidar com tiros. Não há, contudo, informações sobre agentes feridos.

Na contramão, moradores negaram os alegados ataques simultâneos à imprensa e informaram que os agentes abriram fogo numa rua movimentada porque tentavam acertar uma moto em movimento, mas acabaram atingindo uma kombi onde Ágatha estava com um familiar.

Veja o texto na íntegra:

A Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Estado do Rio de Janeiro, lamenta profundamente a morte da menina Ágatha Vitória, de oito anos, no Complexo do Alemão, na noite de sexta-feira, dia 20. A morte de Ágatha vem se somar à estatística de 1.249 pessoas mortas pela polícia nos oito primeiros meses do ano. Um recorde macabro que este governo do Estado aparenta ostentar com  orgulho.

A OABRJ lamenta profundamente que a média de cinco mortos por dia pela polícia seja encarada com normalidade pelo Executivo estadual e por parte da população. A normalização da barbárie é sintoma de uma sociedade doente. 

A OABRJ lamenta profundamente que horas antes da morte de Ágatha o governador tenha dito, conforme relatou a imprensa, que promoveria um “combate e caça nas comunidades”. 

As mortes de inocentes, moradores de comunidades, não podem continuar a ser tratadas pelo governo do Estado como danos colaterais aceitáveis. A morte de Ágatha evidencia mais uma vez que as principais vítimas dessa política de segurança pública, sem inteligência e baseada no confronto, são pessoas negras, pobres e mais desassistidas pelo Poder Público.  

A defesa do direito à vida é o princípio mais básico do ser humano e deveria ser o norte de qualquer governo civilizado. Uma política de segurança pública sem planejamento de inteligência atenta contra a integridade da população, e da própria polícia, e afronta os parâmetros básicos de civilidade.

Por meio de sua Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária, a OABRJ está à disposição da família de Ágatha e de familiares de outras vítimas da violência do Estado.

Rio de Janeiro, 21 de setembro de 2019.

Luciano Bandeira

Presidente da OABRJ


Com informações do GGN e da Carta Capital.

Foto: Voz das Comunidades: manifestação após a morte de Ágatha

Deixe um comentário