Desmobilizar os protestos é um erro imperdoável

Por Gustavo Roberto Costa*

O fascismo e a violência avançam de forma avassaladora.
As ameaças de golpe já não são mais subliminares; são escancaradas.
As instituições estatais, ou já capitularam, ou dão reações vacilantes e tímidas.
As lideranças da oposição adotaram o “fica em casa”, e a extrema direita tomou as ruas. Está dando a aparência de base social para o golpe militar. Tudo que eles querem.
Daí vieram as “notas de repúdio”, as quais logo viraram – merecidamente – motivo de chacota.
E eis que, quando as torcidas organizadas, com forte representatividade e apelo popular, saem às ruas clamando por “democracia”, são desautorizadas por setores ditos progressistas.
A pandemia é a desculpa. As provocações são a desculpa. Os infiltrados são a desculpa. Não é a hora, dizem.
Acontece, amigos, que o fascismo não vai esperar a pandemia passar para sua política de violência. Com o fascismo não se brinca um só minuto. O que dizer de “esperar alguns meses”?
As provocações e os infiltrados sempre terão. Só que, quanto maior for o número de manifestantes, mais difícil será a atuação dos infiltrados, e menos ameaçadoras serão as provocações.
Esperar até quando para lutar contra o genocídio negro e o encarceramento em massa? Esperar até quando para enfrentar o neoliberalismo, que está destruindo o pouco de Estado Social que ainda havia?
O governo não parece estar esperando motivos para fechar o regime e implantar uma ditadura. Aliás, como esse é seu desiderato claro, o povo nas ruas ao menos dificultará que o alcance.
Não quer sair à rua, não vá.
Mas não desmobilize o movimento de quem já não aguenta mais só apanhar, e já não aguenta mais promessas vazias de que as “instituições nos salvarão”.

A luta política é nas ruas, e já.

*Gustavo Roberto Costa é Promotor de Justiça em São Paulo. Membro fundador do Coletivo por um Ministério Público Transformador – Transforma MP e da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia – ABJD