Carta de um policial militar aos verdadeiros cristãos

Por Martel Alexandre del Colle, no Justificando.

A Bíblia sagrada nos conta que um dos homens mais sábios que já pisou neste planeta foi Salomão. Deus se aproximou do filho de Davi para lhe conceder um pedido, qualquer pedido. Salomão não pediu dinheiro, nem glória, nem longevidade: ele pediu sabedoria.

O pedido de Salomão alegrou a Deus. Um líder que pede sabedoria mostra amor pelo seu povo. A satisfação de Deus foi tamanha que ele afirmou que Salomão teria seu pedido concedido e muito mais lhe seria dado.

Muitos episódios da vida de Salomão estão registrados no velho testamento, bem como parte de sua filosofia. E ao ler tais registros é possível se aproximar de Deus. Porém, eu, aqui, quero destacar um destes momentos – talvez o mais conhecido deles – para explicar como deve estar o coração de alguém que deseja agradar à Deus, à Cristo. Quero destacar como a sabedoria de Salomão pode nos ensinar a se aproximar de Jesus, a estarmos certos de uma vida nos céus ao lado do Criador.

Conta a história que duas mulheres foram apresentadas a Salomão devido a uma briga que envolvia um recém-nascido. Segundo a narrativa, ambas as mulheres deram à luz, mas uma das crianças morreu dias depois do parto. O litígio começou quando as duas mulheres afirmavam ser a mãe da criança sobrevivente. Nenhum outro sábio soube solucionar o problema e, por isto, o caso chegou ao rei.

Salomão tomou ciência da situação e apresentou uma decisão bastante inesperada: ele decidiu cortar a criança ao meio e dar metade para cada uma das mulheres.

Quando as mulheres souberam da decisão, as reações foram bastante diferentes. Uma das mulheres aceitou a decisão de bom grado, mas a outra renunciou à criança. Uma não queria abandonar seu orgulho e sequer se importava com a criança. A outra amava a criança de tal forma que preferiu a humilhação de perder uma causa judicial diante de toda uma nação, preferiu a tristeza de viver longe da criança, preferiu entregar à outra mulher a vida que ela afirmava ter gerado.

Salomão então retrocede de sua decisão e entrega a criança para a mãe que acabara de renunciar a guarda. Ficou demonstrada a sabedoria de Salomão. Porém, este caso não ficou registrado na Bíblia apenas para indicar aos juízes uma possível técnica de solução de litígios. Analisando toda a narrativa bíblica, fica patente que o objetivo era outro: demonstrar a diferença entre alguém que ama e alguém que não ama.

E aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor.

Você, Cristão verdadeiro, acaba de receber (se já não havia recebido) uma forma de testar se você está trilhando os caminhos do Senhor. O que é primeiro em sua vida? Seu amor ou seu orgulho?

O cristão verdadeiro analisa sua conduta diariamente e abandona o pecado em troca do amor. O cristão falso mantém seu orgulho, suas riquezas, e rasga sua salvação ao meio.

E por que eu quero falar com cristãos verdadeiros? Porque nós precisamos de uma revolução de amor neste país. E Cristo nos deu o caminho: ama o teu próximo como a ti mesmo.

Se alguém bater em uma face, então dê a outra.

Dê a Cesar o que é de Cesar.

Não se preocupe com o dia de amanhã, basta o mal de cada dia.

Não junteis tesouros na Terra, mas nos céus.

Como pode um país de maioria Cristã ser um dos países mais violentos do mundo? Ou Cristo é falso ou estamos abarrotados de falsos cristãos.

Mas eu não vim lhe trazer más notícias, eu vim lhe trazer boas! Isso pode mudar. Porém, para que isso mude, você precisa ser a mãe que ama o filho, e não a mãe que ama o orgulho.

Está com o coração aberto? Então vamos caminhar mais!

Nós precisamos resgatar os valores cristãos dos cristãos. Esqueça os valores morais da sociedade, pois Cristo disse: com o mesmo peso que julga você será julgado. Portanto julgue a si mesmo. Não olhe o cisco no olho do outro, mas olhe a trave no seu olho.

Aí está o primeiro sinal de alerta. Igrejas e cristãos se tornaram uma das maiores fontes de julgamento do país. Julgam qualquer pessoa que seja diferente, que viva diferente. E não só julgam, mas condenam!

Como pode um cristão dizer que a pena para um bandido deve ser o assassinato deste bandido?

Jesus nos ensinou a perdoar. E não só sete vezes, mas setenta vezes sete!

Jesus olhava a dor dos outros sem julgar os pecados. Jesus não olhou os seus pecados, então por que você está olhando o dos outros? E quando via a dor, então Jesus agia. Agia para acabar com a dor, agia para acabar com a fome. Nem que isso lhe custasse tempo, dinheiro, energia. Energia que ele poderia ter usado para ser um homem de riquezas, de luxos. Afinal, Ele pode e podia tudo! Ele é o filho de Deus!

Jesus disse para darmos a outra face para o agressor bater quando formos agredidos em uma face. Não nos disse para revidar. Não nos disse para matar. Nem para prender, mas para visitar os presos. E disse que aqueles que visitassem os presos estavam visitando ao próprio Cristo.

Jesus não criou as prisões e nem pediu por elas. Jesus distribuía amor pelas entranhas do sistema.

Jesus disse para entregar mais do que o bandido pede quando formos assaltados.

Não fui eu quem disse isso! Foi Jesus! E você não é obrigado a ser cristão, mas se você é, então não destrua tudo que ele construiu. Tudo que ele deixou com o sacrifício da própria vida.

Jesus disse que quem quiser viver essa vida acabará por perder a vida nos céus. E quem perder essa vida amando mesmo quando injustiçado, este ganhará o Reino dos Céus.

Portanto, aqueles que amam a Cristo não devem se preocupar com a injustiça, e nem com o pecado do próximo. Tais julgamentos cabem a Deus. Ao cristão cabe amar incondicionalmente.

Jesus disse que amar quem nos ama é fácil, e mesmo quem não é cristão o faz. O desafio do Cristão é amar aquele que te odeia, o que te faz mal, o corrupto, o criminoso.

Portanto, ame!

Grande parte das igrejas do Brasil estão em pecado. Afogadas em pecado de tal forma que já estão entorpecidas pela falta de ar (amor). Estão tão envenenadas que se esqueceram dos céus e agora lutam pela terra. Esqueceram-se do amor, e agora lutam pelo sucesso, pelo dinheiro. Muitas igrejas olharão este recado com o orgulho da mãe que prefere partir o filho ao meio do que abrir mão da sua parte para manter a criança viva. E tudo isso porque não amam.

Como pode um pastor ir ao púlpito e dizer aos fiéis em quem eles devem votar?

O pastor fala em nome de Deus, e não em nome de si mesmo. E se um pastor diz que os seus fiéis devem votar em Bolsonaro, logo, todos os que não votam em Bolsonaro são pecadores. E se um outro pastor diz que seus fiéis devem votar em Lula, então todos os eleitores que não votarem são pecadores. Temos uma situação na qual um pastor acusa indiretamente outros pastores de heresia. E isso divide o corpo de Cristo.

E dividir o corpo de Cristo é pecado. Jesus veio a Terra e não orientou seus fiéis a agirem contra certos grupos políticos, mesmo que alguns desses grupos acabassem por condenar Jesus a morte. Pois, para Jesus, a vida aqui é só um período de se limpar dos pecados e começar a amar de maneira divina.

A subida ao púlpito para fins políticos gera ódio e deturpa a palavra de Cristo. Coloca cristãos contra cristãos. Coloca em xeque a credibilidade de pastores que agem corretamente e não manipulam os seus fiéis. Pois, se o seu pastor afirma que Cristo mandou você votar em Bolsonaro, e os outros pastores não afirmam o mesmo, então ele acaba de dizer que o contato dos outros pastores com Deus é falso, e o mandamento do pastor que pede votos– que supostamente veio de Deus – não está sendo cumprido lá. É uma acusação de pecado. E como saber qual pastor tem mais contato com Deus e está falando a verdade? Impossível saber antes da volta de Deus. Portanto, estes pastores estão destruindo a igreja, ignorando o amor de Cristo e concorrendo para seus próprios objetivos.

Se é por amor aos outros, então faça a sua parte. Ame ao próximo como a ti mesmo, e deixe o julgamento para Deus. Pastores são enviados de Deus e não o próprio Deus. Se nem Cristo julgou, quem é um pastor para julgar?

Por não ser possível discutir qual pastor fala em nome de Deus e qual pastor não fala, é preferível que todos os pastores se apeguem a palavra de Deus quando forem pregar. E mais importante: sigam as falas do Deus vivo, Jesus. O velho testamento é a história da construção de uma sociedade a fim de receber Cristo. A moral de Jesus é superior ao velho testamento, e por isso mesmo, às vezes, contraditória. Por que falar de política quando o maior mandamento é o amor? Jesus disse que vem sem avisar. Um pastor que gasta seu tempo falando de voto em vez de falar do retorno do Salvador, demonstra falta de fé na existência do Criador. Não existe pecado grande ou pequeno, mas, se houvesse, esse seria um dos mais graves (deixar a oportunidade de evangelizar para fazer política).

Os pastores só devem dizer a sua igreja para não votarem em um candidato quando este candidato vai abertamente contra o amor de Cristo. Se um candidato falar de ódio, então a igreja deve se opor. Se um candidato falar de execuções, assassinatos, preconceitos, exclusão social, então os pastores podem, em nome de Jesus, informar a igreja que um anticristão está na concorrência a um cargo eletivo.

Caso contrário, a igreja deve se lembrar que as autoridades são escolhidas por Deus, e não pelo pastor. Advogar esse poder é pecado.

E o mal das nossas igrejas é o orgulho. A incapacidade de pedir perdão. Erro atrás de erro. Manipulando as ovelhas em vez de guiá-las.

Mas ainda há tempo para se arrepender. Ainda há tempo.

Aconselho você, verdadeiro Cristão, a levar este texto a sua igreja. Leve como uma mensagem para que o amor volte a ser o símbolo dos Cristão. Imprima, peça a palavra. O amor de Deus deve invadir as igrejas que destilam ódio e aquelas que só amam si mesmas.

Citei muitos exemplos da igreja evangélica, pois é dela que já fiz parte, mas o recado é para todos os cristãos – evangélicos e católicos. O amor é o maior símbolo e força de um cristão, e o amor das igrejas está morno a ponto de dar náuseas. Se você não acredita que o amor pode mudar esta nação, mas acha que o ódio pode, então você não é um cristão. Você não conhecer o amor de Cristo e não sabe o poder que ele tem. Você é um homem de pouca fé que acredita em homens e ignora a Deus.

Cito as igrejas evangélicas, pois eu era de uma igreja batista e vi um pastor ir ao púlpito dizer para que seus fiéis não votassem no PT. Vi um pastor dizer que o buraco da agulha pelo qual Jesus afirma que os ricos terão de passar para entrar no Reino dos Céus não era tão difícil assim de passar. Com isso, incentivando uma vida de luxos no lugar de uma vida de amor. E com sua atitude política dividindo o corpo de Cristo. Eu sou um dos diversos membros que se afastaram ao ver o nome de Deus sendo usado em vão. E isso não pode acontecer, mas aconteceu. O orgulho falou mais alto do que o amor. Preferiram perder pessoas a perderem dinheiro e status. Membros que eram ovacionados na casa onde habita o grande Salvador. Que absurda heresia.

A boa notícia é que a além do amor infinito de Cristo, ele também tem uma cota gigante de perdão. Todos podem alcançar o perdão, até mesmo esses pastores que mancharam o nome de Cristo e incentivaram a violência e o orgulho de membros considerados da elite, mas isso exige o pedir perdão e retomar os caminhos do Senhor.

É bom lembrar que nem todo aquele que diz “Senhor, Senhor”, entrará no Reino dos Céus. A salvação é individual, então preocupe-se com a sua.

Ainda há tempo.

Martel Alexandre del Colle é policial há 10 anos. É aspirante a Oficial da Polícia militar do Paraná.

Deixe um comentário